Sebastião era um velhote já com alguma idade... A esposa que já falecera há alguns anos tinha-lhe deixado dois filhos... Um seguiu os estudos e com a vida. Raramente visitava o pai e poucas vezes falava com o irmão, uma vez que este tinha ficado em casa por não ser auto-suficiente... precisava de acompanhamento...
Sebastião não era supersticioso... nem os seus filhos alguma vez o foram... No entanto, Sebastião andava sempre com uma pedra no bolso... Uma pedra comum, uma simples pedra... sem metal algum que lhe desse valor e sem mineral precioso que lhe desse brilho... Literalmente, um calhau... Esse calhau acompanhava sempre Sebastião... E Sebastião sentia-se bem... Às vezes tirava a pedra do bolso e olhava para ela, como se a pedra lhe falasse e lhe desse respostas...
Um dia, o tal filho foi a casa... uma data qualquer daquelas a que "tinha" de ir a casa ver o pai velhote e o irmão que mal conseguia construir uma frase lógica...
"Ainda andas com o calhau no bolso? Nunca percebi a lógica disso." - Disse à mesa ao almoço.
O irmão olhou para ele e os olhos brilharam com a formação de lágrimas.
Nesse dia, antes de sair de casa, fez questão de roubar a pedra ao pai. Enquanto este dormia a sesta, suavemente tirou-lha do bolso e fugiu.
No dia seguinte, já no trabalho a que se dedicava de corpo e alma, recebe um telefonema. O pai tinha morrido.
Levou a mão ao bolso e pegou ele próprio na pedra que ainda trazia consigo.
Ainda hoje a traz...